Legrady, Suzanne Maria. (2019). Um projeto de aproximação da história e da sociolinguística rumo ao
entendimento das dissimetrias humanas... MODULEMA. Revista Cientíca sobre Diversidad Cultural,
3, 27-44. DOI: http://dx.doi.org/10.30827/modulema.v3i0.8373
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Revista Cientíca sobre
Diversidad Cultural
UM PROJETO DE APROXIMAÇÃO DA HISTÓRIA E DA SOCIOLINGUÍSTICA
RUMO AO ENTENDIMENTO DAS DISSIMETRIAS HUMANAS. A BOM
ENTENDEDOR, MEIA PALAVRA BASTA?
UN PROYECTO DE ACERCAMIENTO DE HISTORIA Y SOCIOLINGÜÍSTICA HACIA EL
ENTENDIMIENTO DE LAS DISIMETRIAS HUMANAS. A BUEN ENTENDEDOR, ¿POCAS
PALABRAS BASTAN?
Legrady, S.M.
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil. Programa de Pós-Graduação em História Glo-
bal (PPGH).
Recibido | Received: 27/11/2018
Aprobado | Approved: 24/02/2019
Publicado | Published: 30/03/2019
Correspondencia | Contact: Suzanne Maria Legrady | sumurcia@gmail.com
0000-0003-1646-0100
RESUMEO
Palabras clave
história
sociolinguística
dissimetria
globalização
comunicação
O presente artigo apresenta um projeto de construção de uma estrutura
metodológica de análise de entrevistas no campo da História Oral enriquecida
por propostas da Sociolinguística Interacional. Visa, portanto, descobrir novos
caminhos que (re)signicam as histórias de “corpos e almas em movimento”,
bem como sinaliza proposições de entendimento das diversidades por meio do
reconhecimento e da aceitação das dissimetrias humanas. A ideia central é
a de fazer valer a articulação “língua(gem)-comunicação-história”, trazendo
à tona múltiplos elementos (implícitos e explícitos) que compõem o vasto
oceano das pluralidades de expressões humanas.
RESUMEN
Palabras Clave
historia
sociolingüística
disimetría
globalización
comunicación
El presente artículo presenta un proyecto de construcción de una estructura
metodológica de análisis de entrevistas en el campo de la Historia Oral
enriquecida por propuestas de la Sociolingüística Interaccional. Tiene por
objetivo, por lo tanto, descubrir nuevos caminos que (re)signican las historias
de “cuerpos y almas en movimiento”, así como apunta hacia proposiciones de
entendimiento de las diversidades a través del reconocimiento y la aceptación
de las disimetrías humanas. La idea central es de hacerse valer la articulación
“lengua(je)-comunicación-historia”, evidenciando múltiples elementos
(implícitos y explícitos) que componen el vasto océano de las pluralidades de
las expresiones humanas.
Legrady, Suzanne Maria. (2019). Um projeto de aproximação da história e da sociolinguística rumo ao
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ABSTRACT
Keywords
history
sociolinguistics
dissymmetry
globalization
communication
This article is related to a project that build a methodological structure for
the analysis of interviews in the eld of Oral History enriched by proposals
from Interactional Sociolinguistics. Thus, it aims to discover new paths that
(re)signify the stories of “bodies and souls in movement”, as well as signals to
the propositions of understanding the diversities throughout the recognition
and the acceptance of the human dissymmetries. The central idea is to assert
the articulation “language-communication-history”, in order to bring to the
surface multiple (implicit and explicit) elements that make up the vast ocean
of the pluralities of human expressions.
INTRODUÇÃO
São inúmeros os ditados populares que poderíamos eleger para compor o título deste artigo,
cuja nalidade é trazer à tona a importância da construção da história do cotidiano da
humanidade a partir do respeito às subjetividades e às diversidades.
Talvez, a expressão mais óbvia seria (dentre tantos outros termos populares existentes) “Uma
andorinha só não faz verão”, mas preferimos escolher A bom entendedor, meia palavra basta
por sua capacidade de nos remeter a uma analogia entre “entendimento” e “língua(gem)”.
Um aspecto a ressaltar é que adicionamos o ponto de interrogação, de forma provocativa, ao
ditado em questão.
Será que algumas poucas palavras são sucientes para compreendermos a grandiosidade dos
afetos e desafetos que um ser humano carrega consigo?
Um dos pontos centrais para empreendermos passos rmes rumo à compreensão das
diferenças e à aceitação da diversidade humana gira em torno da comunicação. Comunicar-
nos é um dos maiores desaos de nossas vidas. Se grandes conitos são gerados entre
pessoas que falam um mesmo idioma, que professam uma mesma religião, que estão
marcadas pelos mesmos traços étnicos e culturais, podemos imaginar as complicações
adicionais durante a tentativa de comunicação entre pessoas de diferentes culturas,
idiomas, religiões e etnias. Diversidades, ao invés de incorporarem o papel de riquezas,
costumam converter-se em divergências e, portanto, podem desencadear situações
caóticas.
Para um bom entendimento é preciso que compreendamos não apenas as palavras,
mas também toda a linguagem não verbal que permeia as relações entre diferentes
interlocutores. Justamente por isso, a proposta deste artigo dará destaque à importância
da aproximação entre duas metodologias cientícas, com a nalidade de maximizar os
resultados dos estudos de investigadores de diferentes setores de atuação (principalmente
aos relacionados às Humanidades e às Ciências Sociais). Trata-se de um trabalho conjunto
entre a História Oral (metodologia da Ciência Histórica) e a Sociolinguística (linha de
pesquisa da Linguística).
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Ao longo da nossa exposição, nossa preocupação será a de sinalizar como “língua(gem)”
e “história” se entrelaçam, se enredam, se engendram, podendo colocar-se a serviço do
fomento da compreensão, aceitação e acolhida das diversidades humanas.
Comecemos destacando que as guras centrais que dão vida ao encontro entre a História
Oral e a Sociolinguística são:
1. Sujeitos-narradores: (grupo de pesquisados/entrevistados);
2. Sujeitos-pesquisadores: (que podem também ser sujeitos-escritores de suas
dissertações, teses e livros);
3. Sujeitos-multiplicadores: (grupo de outros atores sociais que leem os resultados das
pesquisas e que, possivelmente, os reproduzem).
No último tópico deste artigo, o leitor conhecerá um exemplo, uma entrevista realizada
com um sujeito-narrador imigrante, um romeno (A.S.1) domiciliado em Zaragoza na Espanha.
MARCO TEÓRICO: A LINGUA(GEM) COMO CORPO E O ENTENDIMENTO COMO ALMA
Um corpo que não alimenta a alma e uma alma que não alimenta o corpo estão fadados a
minguar e a morrer. Parafraseando Orlandi (2012): “não se separa a vida biológica e a alma;
não almas individuais separadas” (p.71). Isso remete-nos à complexa perspectiva da
simbiose entre materialidade e imaterialidade, (re)desenhada por elementos simbólicos que
conduzem as vidas humanas a incompletudes e a contradições. Encontramos em Aristóteles,
a armação da relação constante entre corpo e alma. Dessa maneira, estão alma e corpo
coligados. Tudo aquilo que a alma sofre, não ocorre sem o corpo. O corpo, por sua vez, nada
faz sem a alma, pois ela é o seu princípio animador (anima): “A alma é corpo e princípio do
corpo que vive” (De Anima, 415b7-14).
Orlandi (2017) também nos faz lembrar que: “Na relação inseparável entre corpo e alma, se
juntam matéria, desejo, movimento, equívoco” ¬(p. 266). A autora arma que, desde o seu
ponto de vista, ao existir a presença da matéria, existe a contradição, o que, então, pode
mostrar a entrada da ação da linguagem, ocorrendo a mistura de presença e ausência.
Compreender as verbalizações (ou mesmo, os silêncios ou silenciamentos) dos pensamentos
e sentimentos humanos – por meio de palavras pronunciadas (ou não) em uma entrevista,
as quais serão transcritas e constituirão o “corpus” das nossas investigações exige uma
minuciosa reexão acerca dos gestos representativos e interpretativos, bem como dos vários
instrumentos de análise dos mesmos. Conforme proposto por Orlandi (2017): “O gesto da
interpretação se porque o espaço simbólico é marcado pela incompletude, pela relação
1. Identidade preservada respeitando a vontade do próprio imigrante. Entrevista realizada em 2005
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com o silêncio. A interpretação é o vestígio do possível. É o lugar próprio da ideologia e
é ‘materializada’ pela história” (p.18). Para a perpetuação da história contada por um
sujeito-narrador, portanto, não é somente meia palavra que basta. Faz-se necessária a
sensibilidade para capturar os mínimos detalhes, resultando na expressão maior das almas
dos diferentes interlocutores envolvidos num processo comunicativo.
Assim, como continuidade dessa proposição, reitamos sobre o fato dos “nossos muitos
mundos” (que vão do pessoal ao universal) não estarem constituídos de coisas acabadas,
mas sim de processos que estão em incessantes movimentos, muitos deles tensos e
contraditórios. Há uma engrenagem que não pode ser vista meramente como aquela que
afeta o sujeito, mas deve ser encarada também como aquela que constitui o próprio sujeito
que é marcado pela mescla do real e do imaginário. Para Orlandi (2017): “o indivíduo se
constitui em sujeito pela interpelação ideológica (a forma-sujeito histórica)” e “a ideologia,
na formação teórica da Análise do Discurso, é elemento base, fundamento da constituição
do sujeito e do sentido” (p.20).
A memória, o real, o imaginário e a produção das expressões orais ou escritas condicionam
“o” e são condicionados “pelo” conjunto de processos da vida sociocultural e política de
um sujeito. A língua(gem) pode, então, ser entendida como um conjunto de signicações
construído por processos históricos. Dessa forma, a alma da nossa proposta se faz presente
por meio da identicação e da busca do entendimento das histórias, das identidades e das
ideologias dos “corpos em movimento” (sujeitos-narradores), protagonistas do “corpus” das
inúmeras pesquisas construídas por nós (sujeitos-pesquisadores).
Destacamos que o ponto crucial para a correta transcrição e análise do conteúdo (manifesto
e latente) por esses “corpos em movimento” é a atitude que orienta e promove o respeito
ao pluralismo de sentimentos, ideologias, pensamentos e formas de expressão. E segundo a
teoria proposta por Orlandi (2017):
O conteúdo manifesto, ou seja, o relato, a narrativa, estaria relacionado ao trabalho do
sonho e o conteúdo latente vincula-se à narratividade, ao gesto de interpretação, trabalho
do analista. Na perspectiva discursiva, em que trabalho, não se alcança esta versão correta
e integral, pois não senão versões. O que há, isto sim, é a compreensão possível que
resulta do trabalho do analista de como, interrogando os gestos de interpretação que
constituem a materialidade do narrado (“a versão mutilada”), se chega à compreensão do
funcionamento da ideologia e do inconsciente na produção dos sentidos. Tem-se acesso
aos efeitos do funcionamento da memória, no sujeito, pela narratividade, inscrita na
formulação. É esta que pode nos dar acesso à latência dos sentidos no sujeito. Gestos de
interpretação. Com seus possíveis, impossíveis, seus equívocos. (p. 271)
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As nossas ações, de sujeitos-pesquisadores, ao analisarmos distintos discursos, devem
ser orquestradas por gestos isentos de imposições, julgamentos e preconceitos ao
estabelecermos encontros dialógicos com os “corpos em movimento” que carregam marcas
físicas e emocionais. Para que sejam produzidos resultados positivos, devemos transcender
o uso da intelectualidade, empregando a “sensibilidade da anima” (que está associada ao
princípio imaterial da vida, do pensamento e da ação). Portanto, a transcendência do uso da
intelectualidade nos leva à ruptura do pensamento de que para um bom entendedor, meia
palavra basta, porque passa a nos importar a integralidade da comunicação e a garantia da
integridade do valor humano que abarca expressões múltiplas de uma alma.
Em vista do exposto anteriormente, esperamos (re)signicar o uso de instrumentos
metodológicos para que pensemos, sintamos, enxerguemos e expliquemos diferentes
aspectos (tangíveis e intangíveis) que afetam e são afetados pelos “corpos em movimento”
dos sujeitos-narradores de memórias, acontecimentos e histórias. Isso nos pede, portanto,
que analisemos os discursos de cada sujeito-narrador respeitando os seus respectivos
“modos de individuação”, ou seja, sob a perspectiva de “movimento de sentidos,
silêncios, historicidade, conjugação, con-fusão, caminhos obscuros, insensatez, invenção,
derrotas e rupturas. Resistências, deslocamentos, oscilações e apagamentos” (Orlandi,
2017, p. 79). Considerando que muitas das interrogações que surgem ao longo das nossas
investigações estão diretamente relacionadas às problematizações relativas ao “ser
histórico e simbólico”, o qual “tem seu corpo ligado ao corpo dos sentidos” (Orlandi,
2017, p. 33), assumimos que a retroalimentação do funcionamento “corpo / “alma” e
“língua(gem)”/”entendimento” é a nossa grande tarefa enquanto estudiosos das ciências
humanas e sociais.
MÉTODO: PENSAR, SOBRE CONCEITOS E PISTAS DE CONTEXTUALIZAÇÕES
A metodologia adotada é a de parceria entre a História Oral e a Sociolinguística
Interacional. Para tanto, destaquemos alguns conceitos das duas áreas de atuação.
Vejamos, inicialmente, a denição de História Oral proposta por Alberti (2008):
(...) uma pesquisa e constituição de fontes para o estudo da história contemporânea
surgida em meados do século XX, após a invenção do gravador e a da ta. Ela
consiste na realização de entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de,
ou testemunharam, acontecimentos e conjunturas do passado e do presente. Tais
entrevistas são produzidas no contexto de projetos de pesquisa, que determinam
quantas e quais pessoas entrevistar, o que e como perguntar, bem como que destino
será dado ao material produzido. (p.155)
A História Oral trouxe consigo a possibilidade de registrar as memórias, testemunhos
e vivências de pessoas e grupos, cujas histórias antes não eram trazidas à luz. Isso
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correspondeu a um avanço para as áreas das Ciências Humanas, as quais passaram –
conforme palavras de Alberti (2008) a “reconhecer a existência de múltiplas histórias,
memórias e identidades em uma sociedade” (p. 158).
Consideramos de grande importância abrir tal parêntese aqui, pois colocaremos à
prova uma proposta metodológica interdisciplinar e, portanto, para que tenhamos
êxito nessa empreitada de esforços, toda e qualquer aresta que possa gerar futuras
confusões e comprometer os resultados deve ser aparada. Mesmo que pareçam óbvios
para historiadores, alguns pontos merecem ser revistos, pois acreditamos que possíveis
sujeitos-multiplicadores da proposta deste artigo possam fazer parte de diferentes áreas
disciplinares.
Ressaltamos, então, que as seguintes premissas são primordiais no tocante à nossa proposta:
O relato de uma entrevista de História Oral não é a própria História. A entrevista
não nos leva a uma revelação do real. A História Oral merece e precisa ser tratada
como uma metodologia complexa, não simplista e reducionista.
A mera apresentação das transcrições de entrevistas não se congura como
um resultado nal, contundentemente válido, de uma pesquisa. Ou seja,
toda entrevista deve passar por processos complexos e interdisciplinares de
interpretação e análise.
Os registros por meio de entrevistas não devem privilegiar um ou outro grupo
étnico-político-social. Devemos dar a oportunidade de manifestação a “corpos” e
“almas” pertencentes a diferentes grupos, garantindo a pluralidade da articulação
língua(gem)-comunicação-história.
Além disso, nossa proposta metodológica deseja romper com a alimentação de círculos
viciosos de análises centradas em dicotomias como “incluídos, excluídos”, “vencidos,
vencedores”, “localização, globalização”. Reconhecer que cada sujeito é constituído por
aspectos (materiais e imateriais) que o fazem único resulta no respeito ao próprio sujeito
e à pluralidade do conjunto de sujeitos, conjuntura essa que compõe o panorama da
“dissimetria” enfocado por Orlandi (2017), a qual abordaremos mais adiante.
O parágrafo anterior resumiu um dos aspectos centrais da contextualização do nosso
trabalho de aproximação entre “História Oral/Sociolinguística” em prol do entendimento de
subjetividades e de diversidades. Para sublinhar a sua relevância, parafrasearemos Alberti
(2008):
A História Oral é hoje um caminho interessante para se conhecer e registrar múltiplas
possibilidades que se manifestam e dão sentido a formas de vida e escolhas de diferentes
grupos sociais, em todas as camadas da sociedade. Nesse sentido, ela está anada com
as novas tendências de pesquisa nas ciências humanas, que reconhecem as múltiplas
inuências a que estão submetidos os diferentes grupos no mundo globalizado. (p.164)
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Inspirados por tal citação, a partir daqui, parece-nos muito oportuno entrelaçar o papel da
Sociolinguística no processo de (re)conhecimento de multiplicidades. Reitamos, portanto,
sobre um dos objetivos da Sociolinguística:
(...) os padrões de comportamentos linguísticos observáveis dentro de uma comunidade
de fala e os formaliza analiticamente por meio de um sistema heterogêneo, reconhecendo
a língua como uma realidade essencialmente social. Foi estabelecido como ponto
essencial de investigação histórica, a localização do fenômeno sob mudança tanto no
contexto estrutural (interno), quanto no contexto social (externo), pois, para eles, os
estudos empíricos revelam a língua como um sistema que muda, em associação com as
mudanças na estrutura social. (Orlandi, 2003, p. 102).
Sigamos nosso raciocínio, orientados por alguns dos aspectos abordados por Jan Blommaert
(professor de estudos da linguagem, cultura e globalização da Tilburg University), o qual
nos apresenta a Sociolinguística da Globalização (2017), por meio da qual construiu sua
teoria sobre a transformação da língua(gem) no contexto de uma sociedade que está em
constante processo de profundas mudanças. A língua(gem) humana (e aqui explicamos
que não estamos apenas falando da “língua” enquanto expressão idiomática, mas sim de
uma linguagem que engloba outros elementos como o gestual e o semiótico) move-se no
contexto da globalização por meio de uma engrenagem que conecta diferentes comunidades
não mais estáveis e residentes, mas sim em movimento.
Foi a partir desta proposição que agregamos o “em movimento” aos “corpos”. Ou seja,
adotamos, assim, a nomenclatura “corpos em movimento” pelo fato de o mundo ter se
tornado uma complexa rede de comunidades interligadas por materialidades e simbologias
que se movem no plano da imprevisibilidade e das incertezas. Justamente por tal razão,
Blommaert (2017) propõe a revisão da compreensão da comunicação linguística. Ele nos
convoca para a reconsideração de temas como: localidades, repertórios, competências,
histórias e diferenças sociolinguísticas.
Não podemos nos esquecer de que a história contribui, em conjunto com as outras
disciplinas, para o desenvolvimento de conceitos cuja própria natureza e direção apontam
para conexões entre o passado e o presente, os quais denem e explicam eventos sociais
sincrônicos que, graças às suas próprias essências históricas, carregam pistas para as
análises e as interpretações de vários fenômenos relativos à trajetória dos seres humanos,
em diferentes escalas de tempo e espaço.
Todos os detalhes devem ser observados durante os contatos com sujeitos-narradores
de um acontecimento. Palavras, gestos, movimentos, olhares, sons, silêncios, sinais,
formas lexicais, idiomas em contato, formalidades e informalidades, posturas, atitudes,
recolhimento ou transbordo são aspectos que bordam as entrevistas de História Oral e que
precisam ser admirados, anotados e analisados com integridade e integralidade.
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Blommaert (2007) mencionou que uma das principais contribuições da Sociolinguística tem
sido a de demonstrar que:
(...) a “linguagem” é, durante o uso prático em situações reais, um repertório: um
conjunto, culturalmente sensível, de gêneros, de estilos, de registros, com muitas
formas híbridas e acontecendo por meio de uma gama variada de formas pequenas e
grandes. (p.115)
As primeiras pesquisas de Sociolinguística ocorreram entre as décadas de 1950 e 1960.
Trata-se de uma linha de pesquisa da Linguística, com vocação interdisciplinar, sendo que
o seu objeto de estudo está centrado na língua(gem) com uma mirada para a identicação
e a compreensão das inuências dos aspectos sociais sobre a língua e as diferentes formas
das pessoas expressarem-se. Os sociolinguistas estudam – de maneira criteriosa – as marcas
que a oralidade e a escrita carregam, ligadas a regionalidades (variações diatópicas), a
estilos (variações diafásicas) e a variações sociais ou diastráticas (diferenças linguísticas
relacionadas ao lugar ocupado pelo falante na estrutura das relações sociais: escolaridade,
nível socioeconômico, gênero, faixa etária, etc.).
Este nosso projeto de construção da história da diversidade (por meio da História Oral)
versa do uso da linha da Sociolinguística Interacional, tendo como inspiração os trabalhos de
Gumperz e Hymes (1972). Ou seja, o objetivo é o de estudar todo o comportamento social
revelado pela linguagem, tratando-se de um estudo interpretativista, por meio do qual os
interlocutores fazem parte de comunidades de fala, as quais são denidas por Gumperz
(1972) como: “Qualquer agregado humano caracterizado por interação regular e frequente,
por meio de um corpo de signos verbais compartilhados que contrasta com agregados
similares pelas diferenças signicantes no uso da língua.” (p.207)
Desta maneira, por exemplo, o imigrante A.S. (caso que apresentaremos mais adiante)
fazia parte (por ocasião da entrevista realizada) da comunidade de fala dos imigrantes
romenos residentes na Comunidad de Aragón na Espanha (em 2005). Esta contextualização
é de grande importância para que possamos analisar o uso da língua espanhola pelo
entrevistado em questão, os respectivos monitoramentos da fala, as escolhas lexicais e
as marcas da língua materna em seu discurso. Além disso, cabe aqui introduzir as pistas
de contextualização, outro conceito de Gumperz (2002). Elas são aquelas que conduzem
o investigador pelos sendeiros da interpretação dos sentidos subjacentes ao enunciado. A
teoria de interpretação de Gumperz propõe que o contexto seja pensado como processo
inferencial e as pistas que encontrarmos sejam compostas por marcas verbais e não-
verbais capazes de fornecer ao falante/ouvinte um input signicativo para os processos
inferenciais. Segundo exposto por Ribero e Garcez (2002), poderemos perceber que
para Gumperz as pistas de contextualização constituem-se como pistas de natureza
sociolinguística que utilizamos na sinalização das nossas intenções comunicativas ou, ainda,
para inferirmos as intenções conversacionais do interlocutor.
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As pistas de contextualização são:
Linguísticas: alternância de código, de dialeto ou de estilo, expressões formulaicas
(constituídas de estruturas xas, tal como: bom dia, boa tarde, boa noite),
aberturas e fechamentos conversacionais, escolhas lexicais e prosódicas.
Paralinguísticas: ritmo, pausa, hesitação, sincrônica conversacional.
Prosódicas: entonação, acento e tom.
Não-vocais: gesticulação, movimento corporal, direcionamento de olhar e distância
proxêmica (espaço pessoal do indivíduo no meio social).
Surge aqui uma questão a ser destrinchada no tangente às entrevistas de História
Oral registradas apenas em áudio (sem vídeo). O investigador não terá como realizar
a interpretação dos movimentos do entrevistado no momento das transcrições, o que
comprometerá a análise das pistas de contextualização, tão importantes na proposta de
Gumperz. Logicamente, o ideal para que ocorra uma perfeita instrumentalização é que
os depoimentos sejam registrados por meio de gravações em vídeo. Contudo, caso haja
a inviabilidade de tal execução, o que indicamos para minimizar a perda de pistas de
contextualização – é que todos os detalhes da interação entre sujeito-narrador e sujeito-
pesquisador sejam anotados em um caderno de campo.
Outro aspecto a destacar-se é a compatibilidade entre o método de coleta e organização
do “corpus” por parte da História Oral de forma que o “corpus” linguístico obtido sirva
para a extração de pistas, análise e conclusões sobre a interação oral. O importante é que
a interação se dê de forma natural e o seu teor seja respeitado tal qual foi produzido. A
situação controlada pelo sujeito-pesquisador tem um limite e jamais devem acontecer
monitoramentos e sugestões quanto à forma de expressão lexical e gramatical do sujeito-
narrador. Por exemplo, caso estejamos entrevistando uma mulher boliviana que vive no
Brasil alguns meses e ela nos conte “Estou embarazada de dois meses”, podemos car
confusos e não percebermos que não corresponde à palavra “embaraçada” do idioma
português, mas sim a “grávida” (correspondente a embarazada em espanhol). Temos a
opção, caso não tenhamos compreendido o sentido da frase, de lhe perguntar: “Perdão por
interrompê-la. Você poderia repetir essa sua última fala?”. Ou ainda, anotar a dúvida no
caderno de campo e, posteriormente, buscar a informação sobre a questão em aberto. Em
hipótese alguma, devemos controlar e corrigir a fala do sujeito narrador, segundo a forma
que nós imaginamos ser a correta.
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RESULTADO: SENTIR E ENXERGAR, COM HUMILDADE
Potencializamos o sentido do “corpus” conforme maximizamos a qualidade da interação
empírica-teórica, escutando a palavra do outro, enxergando cada gesto do outro, sentindo o
pulsar da vida do outro com humildade e ética. As pessoas que nos revelam o que viveram,
o que viram, o que escutaram, o que testemunharam merecem o nosso respeito e a nossa
empatia. Trata-se de reconhecer um “corpo em movimento” que vai abraçando sentidos
maiores, produzindo a força e o entendimento da alma.
Para tal é fator condicionante e imprescindível que nutramos as nossas próprias almas de
sujeito-pesquisador com o valor da aceitação das dissimetrias, as quais – parafraseando
Orlandi (2017) podemos descrever da seguinte maneira: “Quando falo em dissimetria,
estou visando mostrar que somos diferentes e nossa diferença, como a diferença de
poder aquisitivo social/poder de compra, ou outra qualquer diferença que se signica na
sociedade e na história, não é simétrica” (p. 243).
Justamente por isso, devemos apurar nossas visões e audições para conhecermos (e darmos
a conhecer) diferentes escalas que fazem parte da História Global da humanidade em
movimento.
Se por um lado a Ciência Histórica tem proposto, há alguns anos, uma constante
resignicação de escalas nos estudos historiográcos (referenciando narrativas inseridas em
micro e macro-contextos), por outro a Sociolinguística Interacional também tem pautado
novas discussões rumo à meta de ampliar o escopo das escalas. Os sociolinguistas foram
abraçando novas escalas em seus estudos e, conforme destacou Blommaert (2007), o
composto da variação sociolinguística abrange macro-variações, bem como micro-variações,
as quais são importantes na vida social. Variações múltiplas funcionam como poderosas
fontes de signicados indiciais, conectando discursos a contextos. Além disso, podem
elucidar aspectos relativos a categorias (semelhantes e diferentes) dentro dos enquadres
(frame2) e, consequentemente, a identidades, tons, estilos e gêneros que podem pertencer
a ou desviar-se de tipologias imaginadas. Blommaert (2017) destacou que a lingua(gem)
está conectada a padrões culturais. O multilinguismo relaciona-se (simbioticamente) ao
multiculturalismo. Isso tudo somado aos aspectos ideológicos levantados por Orlandi (2017)
resulta em um complexo conjunto de elementos – não só os explícitos, mas principalmente
os implícitos – presentes nas falas e nos gestos dos sujeitos-narradores entrevistados e
observados pelos sujeitos-pesquisadores.
Se existem diferentes jeitos de expressões dentro de uma mesma língua, imaginemos, então,
o grau de complexidade adicional nos contextos que comportam distintas línguas em contato.
2. As bases teóricas da análise de enquadres foram estabelecidas por Goman (1974), em “Frame
Analysis”, obra na qual apresenta um sistema de termos e conceitos para mostrar como as pessoas
utilizam múltiplas estruturas para dar sentido a eventos. A forma como os participantes criam e
negociam um contexto interacional, através do discurso, é sinalizada pela noção de enquadre
Legrady, Suzanne Maria. (2019). Um projeto de aproximação da história e da sociolinguística rumo ao
entendimento das dissimetrias humanas... MODULEMA. Revista Cientíca sobre Diversidad Cultural,
3, 27-44. DOI: http://dx.doi.org/10.30827/modulema.v3i0.8373
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Uma interação comunicacional envolve expectativas. Já escutamos, algumas vezes, alguém
falando: “faltou nexo no discurso do fulano”. Faltar nexo signica faltar coerência. Ao
divagarmos sobre as falas serem suportadas por um nexo discursivo ou não, também
lembramos do papel dos “marcadores discursivos” que ocupam destacada posição dentro
dos mecanismos de organização de fala, abarcando sons, palavras e locuções.
O que queremos, nesse momento, é manter o foco na problematização do “nexo
coesivo” e em articulações de frases, organização de tópicos e estruturas, aberturas,
direcionamentos e encerramentos de assuntos. É deste nexo que queremos nos ocupar, ou
seja, um nexo coesivo que seja responsável pelos mecanismos de coerência (ou ruptura das
mesmas). Lembremo-nos, então, que a ideia de nexo nos transportará aos vínculos entre
circunstâncias, acontecimentos e opiniões. Esse nexo, portanto, tem relação direta com a
articulação língua(gem)-comunicação-história.
Vale ressaltar, ainda, que existe o movimento subjetivo do sujeito-narrador, presente no
corpo das palavras e esse é o ponto chave para a nossa compreensão semântica da palavra
“corpus” no caso especíco do projeto do entendimento das diversidades que estamos
propondo. Nós nos referimos a um “corpus” que nos leva à “intradiscursividade” (busca
da materialidade discursiva nas sequências linguísticas) e à “interdiscursividade” (sentido
de um discurso produzido, retomado ou complementado por outro), a m de tocarmos em
poros, veias, cicatrizes, fraturas não visíveis.
Enxergar o(s) outro(s) com humildade, sentindo a força das suas palavras, dos seus olhares,
dos seus pesares e das suas alegrias é o que conclamamos em coro com Alberti (entrevistada
por Freitas, Araújo e Sales, 2017) que vem salientando, anos, que a pessoa que trabalha
com História Oral tem que ser humilde. Deve ser aquela que aprende com quem está
falando. Além disso, vale ressaltar que a pluralidade de narrativas é um dos aspectos mais
preciosos que a História Oral tem a oferecer e destacamos que isso também se aplica à
Sociolinguística.
A articulação língua(gem)-comunicação-história quando conduzida com humildade nos leva
(sujeitos-pesquisadores) além das “meias palavras”, ou seja, faz com que mergulhemos no
oceano da pluralidade de expressões humanas.
DISCUSSÃO CENTRAL: EXPLICAR, ENXERGANDO ALÉM DAS APARÊNCIAS
Encerraremos o artigo, apresentando fragmentos da entrevista junto ao imigrante romeno
A.S., realizada em 2005 em um pequeno pueblo chamado Longares (localizado na região
de Cariñena, na província de Aragón). A.S. havia sido recebido por uma ONG que naquela
localidade matinha uma casa de acolhida temporária a imigrantes. A Organização atuava de
forma que os imigrantes de outras línguas maternas aprendessem o idioma espanhol com a
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ajuda de professores voluntários e que sua equipe mediasse contatos no sentido de inserir
os imigrantes no mercado laboral.
Antes de entrarmos no caso especíco de A.S., contextualizaremos a situação da imigração
na Espanha em 2005. Em maio de 2005, foi apresentado um estudo feito pela Divisão de
População do Departamento de Economia e Assuntos Sociais da ONU, situando a Espanha
como o principal país mediterrâneo que passou de emissor de população emigrante a país
de destino de uma crescente imigração chamada de “extracomunitária” (grupo de pessoas
não originárias de países da própria Comunidade Europeia). O relatório apontava para um
número correspondente a 923 mil imigrantes residentes na Espanha em 2000 e 3,7 milhões
em 2005. Também mostrava que 54,1% do total de imigrantes correspondiam a Marroquinos,
Equatorianos, Romenos e Colombianos3.
Os romenos foram um dos grupos de imigrantes vítimas de discriminações e atos xenofóbicos
naquela época, que tiveram suas identidades associadas a ciganos e a infrações, furtos e
roubos. de se acrescentar que a emigração, no caso da Romênia, faz parte também de
uma “cultura migratória”, desenvolvida nas regiões que a emigração se impõe como uma
das opções possíveis para o sujeito prosperar ou melhorar de situação socioeconômica. Esse
mecanismo converteu-se em uma aspiração de grande escala que afetou maioritariamente
aos jovens, movidos pela ideia de prosperidade.
Tal contextualização ajuda a compreender parte do sofrimento de A.S. até chegar em
Longares, pois como abordado por Orlandi (2017):
Não se podem pensar estas questões que implicam a reexão sobre a memória, a
narratividade, processos de identicação, presença, sem pensar a conjuntura política e
sócio-histórica contemporânea. E é nesta perspectiva de análise que nossas interrogações
são postas a serviço da compreensão do nosso objeto de estudo: o corpo encarnado
memória e sentidos do/no sujeito imigrante em seu modo de individuação. (p.80)
A fala de A.S. nos conduziu até a palavra cidadania.4 Ele era professor de Filosoa em
Bucareste e o seu salário correspondia a oitenta euros mensais (em 2005). No dia da nossa
entrevista, já fazia aproximadamente dois meses que estava hospedado na casa de acolhida
de Longares. Por tal razão, conseguiu comunicar-se conosco, ainda que precariamente e
misturando expressões romenas às frases em espanhol. Vale à pena ressaltar, que A.S. não
sabia nenhum outro idioma sem ser o romeno e o fato da fonética de algumas palavras em
romeno se assemelhar bastante ao italiano nos serviu de ajuda, mas também nos trouxe
dúvidas, as quais posteriormente foram eximidas.
3. Dados obtidos nos arquivos da Fundación para el Conocimiento Madrid. http://www.madrimasd.
org/ acesso em 19.jul de 2018
4. Não teremos como trazer todos os detalhes desta entrevista neste artigo por uma questão de
limitação de espaço. Escolhemos, portanto, os trechos que cremos ser mais signicativos para a
compreensão da presente proposta.
Legrady, Suzanne Maria. (2019). Um projeto de aproximação da história e da sociolinguística rumo ao
entendimento das dissimetrias humanas... MODULEMA. Revista Cientíca sobre Diversidad Cultural,
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Os fragmentos serão apresentados em espanhol (exatamente do jeito falado pelo sujeito-
narrador). Pausas e outras observações estarão apontadas entre parênteses, respeitando a
sequencialidade das falas e dos gestos. Ao fazermos as análises, explicaremos os aspectos
mais relevantes quanto ao uso da língua espanhola e a sua mescla com o romeno. Daremos
a conhecer um trecho das considerações que anotamos, naquela ocasião, em um caderno de
campo.
A entrevista começou com a nossa apresentação e, logo em seguida, perguntamos a idade
de A.S. que nos respondeu Treizeci și doi de ani”. Ou seja, o fez em romeno, o que nos
gerou uma certa confusão porque foneticamente treizeci nos soava como treze em
italiano (“tredici”). Então, lhe perguntamos se poderia nos mostrar o seu passaporte. Ele
foi buscá-lo e quando nos entregou, murmurou: Nu-mi place”. Como parecia muito a Non
mi piacena língua italiana, conseguimos entender que quis nos dizer no me gusta(o que
no português seria um não gosto disso”). Achamos que poderíamos tê-lo aborrecido com
o nosso pedido e que aquela frase estava direcionada a nós. Resolvemos, então, lhe pedir
desculpas por algum inconveniente: “Perdón por si acaso hicimos algo que no te pareció
bien.” Imediatamente, nos disse: Nu...Nu era con ustedes. Estoy furios con Rumanía y no
quiero ser rumano”.
O /Nu/ (não) deixava claro que não havia discordância entre nós. Ou seja, era uma palavra
negativa funcionando como armação de que entre nós estava tudo certo. Na verdade, ele
estava /furios/ (bravo, furioso em romeno) com o seu país. Observemos que a fúria não se
materializou contra políticos ou autoridades da Romênia, mas sim contra a nação (há um
forte apelo simbólico e ideológico em tal discurso). Então, nada mais na Romênia prestava
para A.S.?
A.S. contou-nos:
Am era profesor de losofía en Rumanía. Salariul meu era igual a ochenta euros por mes.
Si am pagaba la luz nu comía, si comía nu pagaba la luz. Me marché a Francia porque
imaginaba vivir allí. Nu pasó cum imaginat porque fui furat en París.” (A.S. suspirou
profundamente e fez uma pausa).
Continuou após alguns segundos:
“Entonces… Uhun Fueron compatriotis míos, de Rumanía. Nu fui capaz de comprender
como au facut ello. Eran de mi propia tierra. Vivía en la calle. Y una noche mientras dormía
me llevaron todo que tenía en los bolsillos. Entonces…Nu tenía más dinero y pasé a comer
comida que encontraba en basura”.
Na fala de A.S., uma forte presença do verbo ser (exemplos: era profesor; era igual
a oitenta euros por mes; fui capaz). A mistura das línguas espanhola e romena é clara
em: Am em romeno equivale ao pronome eu (português) e yo (espanhol); salariul meu é
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muito parecido ao português (meu salário, o que em espanhol é sueldo mío ou mi sueldo);
nu equivale a não (no em espanhol); cum imaginat signica como imaginado (português/
espanhol); furat corresponde a roubado (robado em espanhol). No caso de compatriotis,
transcrevemos exatamente o que compreendemos. Tempos depois, soubemos que o plural
de compatriota em romeno é compatrioții, pois em alguns casos de palavras masculinas,
o acréscimo do /i/ pode alterar o nal da palavra e também que na maioria das palavras
romenas, ao acrescentar as terminações do plural, são alteradas as vogais ou consonantes
anteriores (como é o caso do /t/ que é substituído por /ţ /).
Pensemos sobre a carga da palavra “compatriotas” no discurso de A.S. Um compatriota seu
na França era tão “imigrante” quanto ele. Ou seja, A.S. foi roubado fora do seu país natal
por alguém do seu próprio país de origem. Detalhe: ele armou que foram “compatriotas”.
O plural uma dimensão mais grave para o ocorrido, dirigindo a responsabilidade do furto
a um grupo de romenos. Seriam dois, três ou quantos? O que importava é que o enganaram
e com isso a possibilidade de vida na França tinha se espargido.
Podemos inferir que as escolhas linguísticas (mentais) e sua oralidade (posterior à
elaboração mental de A.S.) materializaram-se por meio de certa limitação do conhecimento
da língua, mas um aspecto nos chamou especial atenção: o uso de /Me marché a Francia/,
construção essa muito típica do idioma espanhol (o que em português seria: fui para a
França). Muitos imigrantes brasileiros residentes na Espanha que ainda não dominavam o
espanhol, por exemplo, formulavam esta mesma frase da seguinte forma: Yo marché
a”. Nesse caso, A.S. não utilizou o Am nem o pronome Yo em espanhol. Soubemos depois,
por meio do voluntário que lhe dava aula de espanhol, que essa era uma das frases que
repetia seguidamente a todos que contava a sua história. Ou seja, a partida tem um peso
simbólico muito forte. É como nos dissesse: “deixei tudo para trás”. Logicamente, esse
nosso entendimento não foi aleatório e foi construído graças a vários indícios não verbais,
tais como os gestos, as expressões faciais, os olhares e os silêncios.
A.S., inconformado com a sua situação, pedia que concordássemos com a sua vontade de
esquecer que era romeno. Este próximo fragmento mostra bem tal situação:
Voy destruir pasaporte de Rumanía. Nu quiero más ser romeno. Ser mai bun para mí. Nu-i
așa?” (A.S. nesse momento, começou a chorar compulsivamente)
Limpando as lágrimas, seguiu falando: “Necesito saber bien español (pausa)… Tener empleo
y dar pasos ciertos. ¡Quiero ser español!”
A expressão /Nu-i așa?/pode ser traduzida ao espanhol como /!¿A que sí?!/ e em português
a /Não é? /. Esse é um marcador discursivo que tem a função de interação com o(s) outro(s)
envolvidos no ato dialógico, é como uma solicitação de participação e opinião. Serve ao
mesmo tempo como uma armação, uma pergunta e uma provocação. Na verdade, sem que
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o próprio sujeito-narrador tenha plena consciência, é um clamor por concordância ao seu
pensamento e ao seu discurso. A pista prosódica da entonação de voz é a que, no caso de
A.S., fez uma diferença imensa, deixando uma marcação discursiva claríssima. Como, no
primeiro momento não entendemos o que ele havia dito, escutamos várias vezes a gravação
para tentarmos captar o código linguístico. Quando soubemos do que se tratava, após
consultar o preot (sacerdote da igreja ortodoxa romena) que vivia na cidade de Zaragoza,
compreendemos o forte apelo que havia por meio da sua pergunta.
A frase anterior de A.S. foi muito forte, ou seja, /voy destruir/ (a formulação em espanhol,
sob a regra padrão seria /voy a destruir/). Ele não queria mais ser romeno em função de
todo o sofrimento que já havia passado. Dizia ser /mai bun/ (melhor) para ele e com a
voz, mergulhada numa dor profunda, dava sequência com uma hipótese que ele mesmo
sabia estar longe da sua situação real: /Quiero ser español/. Ficamos impressionados com
o fato de ter pronunciado tal frase em espanhol, categoricamente, com um tom de voz
que evidenciava a sua fúria. As alternâncias de códigos, as escolhas prosódicas, as aberturas
e fechamentos dos turnos conversacionais na narratividade de A.S. eram feitas com
avassaladora intensidade, de um sujeito mergulhado em inconformismo e indignação.
CONCLUSÕES FINAIS: CONFU-SÕES DOS CORPOS EM MOVIMENTO
O caso de A.S. conduziu-nos a um turbilhão de pensamentos e sentimentos. Presenciamos a
expressão da dilacerante dor do indivíduo que tem a sua alma destruída, materializando-se
por uma língua(gem) cheia de pistas.
A.S. nasceu romeno, mas não queria mais viver e morrer como tal. O mesmo que a sua
situação social no seu país natal (fruto do contexto histórico, sociopolítico e econômico) fez
com a sua alma é o que ele desejava fazer com o seu passaporte (destruí-lo).
Havia uma mistura de sentimentos de desespero e impotência materializada no seu choro
compulsivo e em cada um dos seus gestos. O caminho já havia sido árduo, mas não deixaria
de sê-lo pelo fato de estar em um novo país (para onde o seu “corpo em movimento”
imigrou). O seu corpo e a sua alma estavam destruídos e ele deseja reconstruir o seu
ser, (re)começando do zero se assim tivesse de ser. Na verdade, ele sabia que precisaria
juntar os cacos que havia deixado pelo caminho. E mesmo que, depois de anos na
Espanha, chegasse a atingir o status para pleitear a cidadania espanhola, precisaria da sua
documentação romena. Não poderia dar passo algum se fosse sujeito indocumentado. Ter
consciência disso, aumentava o tamanho das suas feridas.
Legrady, Suzanne Maria. (2019). Um projeto de aproximação da história e da sociolinguística rumo ao
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Uma das anotações no nosso caderno de campo foi:
“Olhava para o seu passaporte enquanto falava e enxugava as lágrimas. Desviava o olhar
de nós, seus interlocutores, como se estivesse com vergonha do que estávamos pensando
sobre a sua condição (como se sentisse humilhado diante de nós). A sensação que nos
passou, por meio de seus gestos, foi de desilusão misturada com uma raiva profunda. Para
nós (quando nos olhava por pouco tempo, desviando muito rapidamente o olhar para baixo,
para o passaporte que segurava) direcionava uma mirada triste. Para o passaporte destinava
outro tipo de olhar, de muita raiva. O documentou chegou a car enrugado pela força que
imprimiu ao apertá-lo.”
Nosso contato com aquele “corpo incompleto em movimento”, cheio de con-fusões (Orlandi,
2017, p. 79) nos levou a conhecer a versão mutiladíssima de A.S. Era o sujeito convulsionado
que precisaria (re)criar uma versão de si mesmo. O ritmo, as pausas, as entonações,
os acentos, os tons, as gesticulações, os movimentos corporais, os direcionamentos de
olhares e a distância proxêmica (que A.S. guardava conosco e com o seu passaporte) foram
aquelas que possibilitaram uma análise riquíssima do discurso daquele imigrante romeno de
passagem no pequeno povoado de Longares. De Bucareste a Paris, de Paris a Saint-André,
de Saint-André a Barcelona, de Barcelona a Zaragoza, de Zaragoza a Longares: essa foi a
trajetória de A.S. As memórias deste caminhar de A.S. poderiam resultar na escrita de uma
micro-história que, quem sabe, nos levaria a histórias cruzadas feitas de dissimetrias de
muitos seres humanos em movimento, em busca de um oásis, de uma terra prometida ou de
um lugar ao sol.
Soubemos, seis meses depois da nossa entrevista, que A.S. tinha atingido um nível muito
bom do domínio da língua espanhola (falada e escrita). Por tal razão, uma família espanhola
o havia contrato para trabalhar em um micro agronegócio de plantação de laranjas e de
produção de suco. Provavelmente, se tivéssemos entrevistado A.S. novamente, depois
de alguns anos, nos surpreenderíamos com um novo discurso, quer seja pelo domínio da
língua espanhola, quer seja por uma nova narratividade carregada de novos elementos
constituintes da sua individuação, quer seja pela presença de novos traços identitários
multilinguísticos e multiculturais. As marcas do passado continuariam ali, mas transguradas
num novo cidadão. Talvez, tivesse chegado à conclusão de que não era nem cidadão
romeno, nem espanhol. Quem sabe ele tivesse assumido a sua identidade de cidadão do
mundo, desprovido daquele ímpeto de destruir o seu passaporte romeno.
Para concluir, armamos que vale a pena investir no aprimoramento da articulação
língua(gem)-comunicação-história para estabelecermos estudos que não se xem apenas nas
aparências, mas que se dediquem a práticas que tragam à tona as marcas mais profundas de
histórias tão diversas de “corpos e almas em movimento”. Nem meias, nem poucas palavras
bastam para entender as subjetividades humanas. Buscar pistas que vão muito além das
supercialidades e mergulhar no oceano das dissimetrias representa um grande desao, o
qual proporciona um sentido muitíssimo maior à nossa missão de investigadores acadêmicos.
Legrady, Suzanne Maria. (2019). Um projeto de aproximação da história e da sociolinguística rumo ao
entendimento das dissimetrias humanas... MODULEMA. Revista Cientíca sobre Diversidad Cultural,
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FONTE ORAL
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3, 27-44. DOI: http://dx.doi.org/10.30827/modulema.v3i0.8373
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Autores / Authors Saber más / Toknow more
Suzanne Maria Legrady
Investigadora do Programa de Pós-Graduação em História
Global da Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-
graduada pela UNIZAR - Espanha em Direção de Entidades
de Economia Social, formada no Máster Internacional de
Comunicação e Educação pela UAB – Espanha e graduada
pela ESPM São Paulo. Na África, atuou como professora
de Comunicação Social (em Quelimane, Moçambique) e
realizou investigações junto a refugiados de diferentes
etnias africanas (na África do Sul). Na Espanha,
coordenou o Programa de Acolhida a Imigrantes Amigos
de la Sonrisa. No Brasil, atuou como professora do SENAC
e da Associação Vida Jovem. Atualmente, desenvolve a
investigação “Melilla-Marrocos, a Fronteira Multifacetada
do Sul da Europa e do Norte da África”.
0000-0003-1646-0100
http://lattes.cnpq.
br/2353701390394832